terça-feira, fevereiro 09, 2010

Perspectivas de mercado de trabalho para os jovens brasileiros

Presumo que a situação seja semelhante em muitos países, mas me parece inegável que no Brasil a situação dos adolescentes é cada vez mais preocupante e coloca em cheque o futuro - deles e de toda a nação. A análise que se faz da vida daqueles que já não são mais crianças mas ainda não são adultos não apresenta resultados animadores. Ao lermos reportagens e artigos publicados em décadas passadas, percebemos que hoje existem novas questões a serem debatidas, mas há também as que continuam sem respostas animadoras há mais de 20 anos. Uma das principais se refere à vida dos adolescentes num país onde o índice de desemprego continua muito alto e a concorrência é cada vez mais acirrada e com altos níveis de desigualdade.
Uma matéria publicada na revista "Ciência Hoje" (*) em 1986 informava que muitas vezes a emancipação jurídica não coincide com a independência econômica dos jovens, e que, como "adolescentes tardios", os filhos nessa situação se multiplicaram nas famílias que ascenderam socialmente nos anos 1970. A matéria revelou também que, na época da publicação, os cientistas sociais compartilhavam a ideia de que a periodização da vida de uma pessoa em infância, adolescência, maturidade e velhice e os significados socialmente atribuídos a cada uma dessas faixas etárias nada tem de naturais: são, na verdade, histórica e socialmente engendradas. A autora, Tânia Salém, acrescentou que o reconhecimento dos fatores característicos de cada etapa da vida como se eles fossem próprios dela e a atenção dada à infância, à adolescência, à juventude e à velhice variam segundo cada época, tipo de sociedade e tradição cultural.

Os "conflitos de gerações"

Atualmente, 23 anos depois daquela publicação, esses fatores ainda são realidades na sociedade brasileira. Porém, somados a eles, existem novos fatores igualmente característicos de cada faixa etária. O processo de descobertas ocorrentes na infância e na adolescência faz a pessoa se sentir carente de atenção e cuidados especiais. Com tantas informações que, junto com os pais e mães ou não, os jovens adquirem rapidamente através da internet ou enquanto assistem à TV, eles estão mais conscientes sobre o crescimento do índice de desemprego e do aumento da concorrência para o mercado de trabalho. Sabem que existem estágios em empresas, órgãos gvernamentais, etc., mas sabem também que esses estágios são insuficientes e muito concorridos. Sentem uma necessidade cada vez maior de terem empregos garantidos e de estudarem ao mesmo tempo. Por sua vez, isto significa que existe uma grande necessidade de definir a escolha de uma profissão o mais rápido possível.
Até cerca de 50 anos atrás, para uma família da classe média, bastava apenas que o pai trabalhasse. Há 30 anos a realidade já era outra: era necessário que o pai e a mãe tivessem empregos para garantir a renda familiar mínima necessária. Hoje é preciso que o pai, a mãe e os filhos tenham empregos. Em outras palavras: em décadas passadas o jovem ou a jovem podia esperar completar 20 anos de idade para escolher sua profissão, mas atualmente essa escolha tem que ser definida antes dos 15 anos.
Isto acontece porque atualmente a humanidade vive numa corrida contra o tempo que exige cada vez mais velocidade dos participantes. O rápido e incessante avanço da tecnologia, de mudanças dos padrões sociais e do modo de vida da família faz com que todos nós tenhos que nos adequar constantemente. Como consequência, a responsabilidade de cada pessoa por si mesma e ao mesmo tempo por toda a família se torna cada vez mais necessária e chega cada vez mais cedo. Para os jovens, obviamente este é um grande motivo de preocupação.
Mas essa precupação deve envolver toda família e toda a sociedade. Vivemos hoje uma crise econômica mundial sem precedentes, crescem assustadoramente os índices de demissões, e o crescimento de índices de emprego, vez por outra anunciado, se for verdadeiro, não chega sequer perto do necessário para resolver os problemas sociais mais graves do país. Os jovens que se candidatarão ao primeiro emprego terão que concorrer também com quem estava empregado e, portanto, tem mais experiência e talvez mais qualificação.
A chegada aos dezoito anos é o momento em que as famílias e as leis vigentes no país atribuem aos jovens as condições sociais de adultos. É quando eles passam a ser considerados como cidadãos plemanente responsáveis pelos seus atos. Porém, na maioria das famílias, isto não ocorre de forma precisamente estabelecida. Na maioria das famílias brasileiras, há uma tendência em retardar a chamada "saída de casa". Esse retardamento é mais um fator que provoca dificuldades na obtenção do primeiro emprego.
Neste caso talvez o fenômeno conhecido como "conflito de gerações" seja um dos principais responsáveis por essa dificuldade. As diferenças entre o mundo vivido pelos jovens de hoje e o mundo vivido por seus pais quando estes tinham as idades que seus filhos tem agora me parecem evidenciar isto nitidamente. A geração que usa os micro-computadores, os notebooks e a internet vive uma realidade evidentemente bem diferente da experimentada pela geração das já descartadas máquinas de escrever. Naquela época os pais se integravam ao mercado de trabalho aos 18 anos com relativa "facilidade". Muitos saíram das residências de seus pais e foram viver em outras cidades, outros Estados. Hoje, a necessidade faz crescer entre os jovens a busca da vida até mesmo em outros países com a intenção de superar padrões de vida. O que está em jogo, atualmente, é o fato de que as famílias que obtiveram alguma ascenção social recentemente colocam sobre os jovens a responsabilidade da consolidação dessa conquista e da continuidade da ascenção. Os mais velhos mantêm uma evidente expectativa de resultados de seus investimentos nos filhos ao longo de anos, o que é perfeitamente compreensível. Igualmente compreensível é a ansiedade que isto causa nos jovens: sua principal preocupação em não obter suceso na busca de emprego é a possibilidade de isto fazer com que seus pais se sintam desapontados.
Por outro lado, é preciso lembrar que existem influências recíprocas das duas gerações. Os pais que tem a oportunidade de conhecer o mundo atual devem levar em consideração que seus filhos não conheceram o mundo em que eles viveram quando era jovens. Os jovens de hoje podem ter informações sobre o passado através da imprensa, dos estudos de História, etc. Poderão, no máximo, apenas ter uma visão ou opinião sobre o mundo que seus país viveram, mas nunca terão a experiência que seus pais tiveram. Seus pais, ao cotrário, estão experimentando o mundo atual. Isto coloca os filhos em situação de desvantagem no conflito entre gerações.
Porém, o fato de os pais viverem o mundo em que os filhos vivem permite às duas gerações a possibilidade de, juntas, redefinir e construir novas relações familiares. Para isto, é necessária uma pequena força de vontade de ambas as partes, mas também - digo novamente - dos governos e da sociedade em geral.


Próximo artigo: "Profissões - 1) Tecnologia de Informação (TI)"

Um comentário:

  1. Gostaria que vocês falassem um pouco do mercado de trabalho para as pessoas que pretendem ou cursam biblioteconomia.Desde já agradeço a atenção a mim dispensada.f

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